

Então voltou o frio. Lareira acesa, chocolate quente, pinhão… e atchim! Começa a temporada das doenças de inverno. E junto com ela, emergências lotadas, gente nervosa esperando consulta. Criançada na sala de espera.
O que podemos fazer para diminuir o problema?
Em primeiro lugar, gostaria de desfazer alguns mitos que são comuns no nosso meio. Por exemplo, o de que ligar condicionadores de ar ou estufas teria algum efeito nocivo, pois quando saímos na rua há o “choque térmico”. Isto não é verdade. Vamos tentar imaginar todos os lugares frios do planeta, em que as temperaturas ficam abaixo de zero por vários meses. É claro que essas pessoas precisam esquentar suas casas. No nosso estado não temos frio polar, mas é desagradável e insalubre andar pela casa com muitos casacos, mãos geladas e batendo queixo. Esquente sua casa. Escolha um horário do dia para abrir uma fresta da janela e renovar o ar. Depois ligue o aquecedor ou a lareira e mantenha a casa quentinha. Muito pior do que “choque térmico” é ficar permanentemente com frio. Pense que os países com maior expectativa de vida e menor mortalidade infantil ficam em áreas de frio intenso durante o inverno. As pessoas ficam com roupas leves em casa e se agasalham muito bem ao sair na rua. E vivem mais que nós. E suas crianças morrem menos. Então não é o choque térmico o problema.
Outra coisa, se você tem crianças pequenas, agasalhe-as bem e permita que corram no sol do inverno. A atividade física ao ar livre (que na infância se chama “brincar na pracinha”) traz muitos benefícios à saúde e fortalece a imunidade.
Se você é mãe de bebê pequeno, evite acúmulo de gente, shopping center e supermercados, mas permita-se caminhar pelo seu bairro com seu bebê. Saia na rua, tome um solzinho com ele. Vai fazer bem para vocês dois. Se alguma visita para o bebê estiver resfriada ou doente, peça que volte outro dia. Bebês pequenos, de menos de 6 meses, são frágeis e adoecem facilmente. A amamentação também fornece proteção extra para o seu pequeno. Se for possível, dê só o peito até os 6 meses. Depois desta idade, continue amamentando e ofereça outros alimentos, conforme for orientado pelo pediatra.
Se a sua criança tem alguma doença respiratória, como asma ou alguma sequela da prematuridade, converse com o pediatra no início do frio sobre tratamentos preventivos, vacinas e outras medidas que diminuam o risco de crise e infecções.
E a vacina da gripe?
De acordo com o calendário do Ministério da Saúde, todas as crianças entre 6 meses e 5 anos de idade devem receber a vacina contra a gripe. Crianças mais velhas com doenças crônicas, como asma ou bronquite, também recebem. No primeiro ano em que a criança faz a vacina, devem ser feitas 2 doses. Em todos os anos seguintes (mesmo que tenha perdido a vacina em algum ano) fará 1 dose. Mas atenção: a vacina da gripe protege contra 3 ou 4 tipos de vírus Influenza. Este é o vírus respiratório que causa a síndrome gripal grave, aquela em que as pessoas vão parar na UTI e podem até morrer. Mas ele não previne todos os outros tipos de vírus que causam resfriado comum ou bronquiolite. Então o fato de o seu pequeno ter coriza no nariz, febre e um pouco de tosse algumas semanas após a vacina não quer dizer que não funcionou. Outra coisa, a vacina de gripe é fabricada a partir de proteínas do vírus Influenza. Ou seja, são pedacinhos do vírus. Essas proteínas não tem capacidade de causar a infecção ou de se multiplicar. Elas apenas estimulam o sistema imunológico, para que seu corpo saiba o que fazer no caso do vírus de verdade aparecer. Então não é possível “pegar” gripe através da vacina. Pode dar um pouco de febre, por 1 dia, como qualquer vacina, mas não tem como se contaminar, simplesmente porque o vírus não está ali presente.
E o que mais?
Alguns conselhos velhos continuam valendo: alimentar-se bem, tomar líquidos (sistemas de calefação podem deixar o ar seco, é importante manter-se hidratado), evitar acúmulo desnecessário de pessoas. Roupas quentes são importantes, sem exagero. Manter a casa limpa e arejada (mas não gelada) também ajuda. Evite varrer com vassoura, procure passar um pano úmido ou aspirador de pó. Assim, os germes que ficaram depositados no chão após tosses ou espirros serão removidos e não voltarão ao ambiente. E lembre-se que a melhor maneira de prevenir contágio é através da lavagem das mãos. Use álcool gel, mas quando ele começa a deixar resíduo na mão está na hora de lavar com água e sabão.
E se mesmo assim a criança adoecer?
É esperado, de acordo com algumas pesquisas, que crianças pequenas, abaixo de 2 anos, tenham entre 8 e 14 infecções de vias aéreas por ano, usualmente concentradas nos meses de inverno. O que vale dizer que seu filho poderá passar o inverno todo fungando… Episódios de gripes e resfriados que não envolvem falta de ar, febre alta e tosse prolongada podem ser manejados em casa. Em caso de dúvidas, tente fazer contato com o pediatra do seu filho. Lembre-se que as emergências (mesmo as de hospitais particulares) operam no limite da capacidade nos meses de inverno. Então evite o que puder procurar os hospitais. Se você acha que seu filho pode realmente ter algo grave, mais do que um resfriado comum, se sua criança apresenta falta de ar, febre por mais de 48h ou algum sintoma que a assuste, procure um serviço de pronto-atendimento. Tenha paciência e lembre-se que em um serviço de saúde a prioridade é a segurança dos pacientes, não a conveniência da família. A ordem de atendimento não costuma ser por chegada, e sim por classificação de risco, que é feita logo que você abre o boletim de atendimento. Talvez outras crianças com sintomas mais graves passem na frente do seu filho, se ele está um pouquinho melhor. Se o motivo da consulta é febre, dê o antitérmico prescrito pelo pediatra para estes casos antes de sair de casa. A criança deve ser examinada em um momento que esteja com pouca ou nenhuma febre. Se ela chegar com a temperatura alta, pode ter que esperar algumas horas até que baixe, mesmo que não tenha ninguém na sua frente.
Por fim…
Estas são algumas orientações que valem para a maioria das crianças que não tem problemas graves ou crônicos. Se o pediatra do seu filho deu orientações diferentes, faça conforme o combinado, pois ele é o médico que examina sua criança periodicamente e a conhece melhor. E vamos aproveitar as coisas boas do inverno, comer muito pinhão, tomar chocolate quente e aproveitar as festas juninas!